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segunda-feira, 8 de setembro de 2025

DA FICÇÃO COM DESTINO À REALIDADE

Imagem obtida por IA

 

        “Clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer.”

Desde a tenra idade quando, após uma longa espera, enfim, acreditei ter dominado suficientemente as letras e então ter me tornado um leitor de verdade, caminhei todo confiante até a biblioteca da minha cidade, pois minha escola, pasme o caro leitor, não possuía uma (ideia praticamente inconcebível para alguns). Ao receber a tradicional carteirinha, foi como se eu estivesse agora em posse de um passaporte que me permitiria fazer as mais diversas – e por que não ilimitadas – viagens.

A diferença e, para mim, a grande vantagem que eu passava a ter: não havia qualquer barreira, fosse no tempo ou no espaço, que eu não pudesse transpor. Com a bagagem sempre pronta (imaginação fértil e predisposta), foi assim que comecei a decolar em meus primeiros voos, tendo por porta de entrada os volumes da “Coleção vaga-lume”. Se você, caro leitor, por acaso, sabe de que livros eu estou falando, comungamos agora do mesmo clima nostálgico e, consequentemente, acabamos de revelar um pouco sobre a quantidade de primaveras que já acabamos por colher nos jardins de nossa existência.

Voltando às minhas lembranças de leitor: durante muito tempo, assim como a maior parte das crianças e adolescentes de minha época, acreditei ser a literatura (materializada nos livros) uma fuga bem-sucedida dessa nossa realidade um tanto quanto entediante. Porém, fui crescendo, ganhando mais estatura enquanto meus livros aumentavam em volume de páginas e, posso dizer, sem sombra de dúvidas, que nosso processo de amadurecimento foi acontecendo de forma simultânea. Sim, crescemos juntos como inseparáveis amigos de infância.

E agora você pode estar se perguntando: “Que diabos isso tem a ver com o tema dessa coluna?”. E eu te respondo: tudo. Conforme fui me aprofundando na leitura dos chamados “clássicos”, comecei a compreender que ler um livro para fugir da realidade é, na verdade, um tiro pela culatra. Por quê? Por mais ficcional que um livro seja, (acredite em mim!) ele sempre nos conduzirá de volta para a realidade novamente. Como será possível? Eis que agora chegamos ao ponto de partida dessa coluna, amigo leitor.

O grande filósofo Aristóteles via as artes (entre elas a literatura) como uma imitação perfeita das imperfeições da natureza, enquanto Platão, outro pensador, determinava como arte o que foi feito pelo homem e que imitava algo. Assim sendo, essa dualidade ficção/realidade existente nos livros, assim que descoberta por este assíduo leitor que vos fala, mais ainda causou em mim fascinação e encanto pelas obras já lidas e por muitas as quais haveriam de vir.

O tempo passou, como sempre implacável e, algumas centenas de livros mais tarde, tornei-me professor de literatura. Hoje, posso afirmar, com maior convicção ainda, que quem considera a literatura como uma verdadeira fuga do mundo real, pode estar redondamente enganado. Essa coluna é sobre isso: o quanto a literatura tem a ver conosco, com nossas vidas e nossa realidade cotidiana; que os livros, em especial os clássicos, sobre os quais se deu minha formação de leitor e especialista, não estão distantes de nossa compreensão ou até mesmo interesse.

Por mais únicos que pareçam Werther, Gregor Samsa, Quasímodo, Capitu, Romeu e Julieta, Dom Quixote, Hamlet, Policarpo Quaresma, entre outros tantos, eles são inspiração nascida do meio dos homens comuns e reais. Se Camelot, Liliput, Terra do Nunca ou ainda Nárnia, parecem de uma criatividade sem limites; garanto que você pode encontrar discretos traços desses lugares ao redor do mundo.

Eu convido a você, curioso leitor, a um passeio semanal pelo mundo da literatura clássica para que possamos juntos, eu e você, desfrutarmos de uma experiência que os livros podem proporcionar: uma viagem maravilhosa, tendo a ficção como ponto de partida e a realidade como linha de chegada, provando, por meio da vivência, que a literatura nunca foi distante da realidade, muito menos pode ser considerada uma arte inacessível e excludente.

A viagem vai começar e eu conto com você para me acompanhar, a partir da próxima semana. Você tem sete dias para fazer os preparativos, separe seu passaporte. Eu espero por você.

 

                CALVINO, Ítalo. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.                                           


21 comentários:

  1. Viagem sensacional! Aceito o convite, aqui estarei ns próxima semana novamente! Uhhuuu

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  2. Que maravilha de convite, amei a leitura e já estou com passaporte em mãos, aguardo a próxima viagem. Parabéns meu nobre!!

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  3. Vale a(s) viagem(ns), vale a ideia. Vida longa para elas.

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  4. Excelente e incentiva à leitucra e ao conhecimento

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  5. Muito bom e inspirador. Esse é o meu, nosso universo, o das ideias, dos textos, livros e similares. Parabéns pela iniciativa. Grande abraço.

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  6. Convite irrecusável!
    👏👏👏👏👏👏👏
    Adorei a leitura!

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  7. Incrível, Márcio nunca decepciona! Ele é o melhor. ❤️

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  8. Aprendi, desde cedo lendo, que para escrever um livro teria que ler antes uma biblioteca e apesar de não tê-la lido ainda, já me aventuro no mundo da poesia. Parabéns caro amigo e também já estou de malas prontas para viajarmos juntos.

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  9. Parabéns, Márcio!! Você é Fera!!!

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  10. Parabéns M.F você é um grande poeta e escritor, conseguiu imprimir num texto dissertativo o mesmo lirismo poético da sua poesia. Concordo com tudo o que disse e vou continuar a discussão no seu particular.

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  11. Parabéns Márcio Fabiano. Bela iniciativa, e belo trabalho.

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