Minha lista de blogs

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

UM ARTISTA ENTRE TRAÇOS E LETRAS


 

Hoje, na estreia do nosso espaço “De papo com o escritor”, temos a honra de receber o múltiplo artista e meu grande parceiro de projetos, Arnaldo Júnior. Para começar, vamos apresentar aos leitores um pequeno resumo de suas tantas atividades:

Arnaldo Martinez de Bacco Junior é professor de História, mestre e doutor em Educação, também é fanzineiro, cartunista, ilustrador, poeta, escritor (principalmente de literatura infantil e cordel) e ainda se atreve a fazer quadrinhos, roteirizando e/ou desenhando. Gosta de trabalhar em parceria e tem um montão de trabalhos publicados por aí. Participou dos zines Boca de Porco, O Travessão, Os Arnaldos Zine, Fede e muitos outros. Faz parte dos Coletivos Z, RPHQ e Escape para o Perigo. Seus quadrinhos mais significativos são: A Garota Perigo, Cospe Fogo, Ike o viajante do tempo, Cabelo, Pagando Micos e o Homem sem Graça Nenhuma. Em literatura infantil publicou Poemas Siderais (com André Oliveira, Alexandre Azevedo e Marciano Vasques), Dani Down um menino legal, O maior campeonato de todos os tempos e Histórias Avoadas, todos em parceria com André Oliveira e O menino e a avó do menino pela Caravana Editorial. Também ilustrou “Ribeirão Preto para as crianças” com textos de Ângelo Davanço, para a revista Revide. Em cordel, compôs e ilustrou diversos folhetos, muitos em parceria com Marcio Fabiano. Seus trabalhos podem ser vistos nas redes sociais: @osarnaldos,  @versosembrasa e @arnaldojunioreducacaoearte.

Arnaldo, gostaria de dizer que é uma grande satisfação receber você aqui nesse espaço. Seja muito bem-vindo ao “De papo com o escritor”.

Muito obrigado, Márcio. É um prazer estar aqui e falar um pouquinho com os seus leitores sobre o meu trabalho. Também é uma honra muito grande poder abrir a sessão de entrevistas deste blog literário. Desejo a este blog muito sucesso e vida longa.

São tantas e variadas as atividades que você desenvolve na sua carreira artística, mas que se dividem, praticamente, em dois grandes grupos: a escrita e a ilustração. Pode nos contar como cada uma delas surgiu na sua vida? Como foi que se deu esse contato?

Começando pela ilustração, que é mais simples, o que posso dizer é que todos nós desenhamos quando crianças, mas depois, por razões diversas, principalmente as críticas dos adultos, vamos abandonando. Eu nunca parei. Continuei desenhando e soltando a imaginação e aí, talvez, a partir de um certo tempo, carregado pela escrita. Essa me chegou primeiro pelos ouvidos, nas leituras que minha mãe fazia na hora de dormir, nos programas de rádio em que eu ouvia as narrativas da coleção Disquinho do saudoso Braguinha. Além disso, meu pai tinha uma pequena tipografia e lá, com ele, fui aprendendo as primeiras letras, rodeado de papel e tinta gráfica. Então, este conjunto de coisas foi fazendo em mim um apaixonado pela imagem e pelas letras.

Tanto na sua vida de escritor quanto na sua vida de ilustrador, você chegou a ter algumas grandes referências (profissionais, artísticas) que o ajudaram em seu desenvolvimento técnico e na busca do rumo verdadeiro na sua carreira? Como foi essa trajetória?

As influências são fundamentais na vida de quem trabalha com criação e digo “fundamentais” no sentido de fundamento mesmo, alicerce. Para mim, as maiores influências vieram dos quadrinhos e da música. Sempre gostei muito de quadrinhos e lia tudo, de Pato Donald a Spirit, de Mafalda a Valentina, de Tarzan a Pasquim. Inegável que esse contato com traços tão diferentes contribuiu na minha formação enquanto ilustrador, enquanto as letras de música foram minhas primeiras influências na escrita. Na adolescência, eu queria ser músico e foi assim que comecei a escrever minhas primeiras letras, meus primeiros versos.

Permanecendo ainda nesse caminho de um paralelo entre essas duas linguagens utilizadas nos seus trabalhos, poderia nos dizer qual o maior desafio que cada uma delas oferece para que o artista possa se fazer compreendido?

A escrita flui mais fácil, geralmente, enquanto a ilustração exige mais técnica, mais trabalho e equilíbrio. Quando ilustro um trabalho, meu ou de outro autor, preciso estar atento ao equilíbrio. A ilustração não pode ser somente uma repetição do que já está escrito nem pode criar uma outra narrativa para além do que o escritor deseja passar aos leitores. Então, seguramente, ilustrar acaba sendo um desafio maior.

Vamos fazer aqui uma pequena lista dos gêneros: história infantil, poesia, cordel, história em quadrinhos, fanzine, charge. Só de enumerar, já parece tanta coisa. Pensando em rotina e tempo hábil, como é se desdobrar entre tantos tipos de gêneros tão diferentes entre si e como se organizar para dar conta de toda essa produção?

Sinceramente não sei, rsrsrsrsrs. A poesia, a charge, as tirinhas, os contos infantis, foram surgindo naturalmente, sem que eu me desse conta. Então, de repente, vem uma ideia de charge ou de história em quadrinhos, ou de poema, se cordel ou verso livre, isso não tem hora para acontecer. É a necessidade do momento, do que quero transmitir, que determina o veículo. Acho que é isso, mas francamente não sei mesmo responder essa pergunta.

Nota-se que toda a sua produção, de uma forma geral, acaba sendo direcionada para o público pré-adolescente e mais ainda para o infantil. Olhando para sua biografia, o fato de ser professor e, depois, de ser avô, exerceu alguma influência na escolha por esse público?

Certamente que estar próximo dos jovens e principalmente dos mais jovens ainda, vai exercer um peso considerável quando estou produzindo alguma coisa, seja texto, seja imagem. Mas tenho também um lado mais adulto, mais reflexivo, embora pouco divulgado, até porque as produções literárias voltadas para os mais jovens têm tomado um bom espaço nas coisas que faço.

Ao analisar sua obra como um todo, observa-se que você possui vários trabalhos solo, mas o que chama mais a atenção é a quantidade de produções em diversas parcerias. Como é essa questão de trabalhar com outros autores, dividir a autoria de uma mesma obra?  

Embora boa parte de minha produção seja de trabalhos solo, gosto muito de trabalhar em parcerias e isso vem desde a minha adolescência. Dentre os vários parceiros, tive e tenho a honra e o prazer de trabalhar com Cordeiro de Sá, Vitor Pandão, David Lima, Karen Fagu, Denis Pimentão, Josy, Lucas Lourenço, Vinil, Alexandre Peixoto, Camilo, Zé Luís Jabá, Lucas Busatto, Julinho Nascimento, Evandro Navarro e meus parceiros mais assíduos: André Oliveira, Arnaldo Neto, Ângelo Davanço e Marcio Fabiano. Desenhando, escrevendo, compondo... é muito gratificante e só tenho a agradecer a essas pessoas incríveis.

Agora, tratando especificamente sobre a ilustração: após tanto tempo desenhando, como você descreveria o seu estilo hoje? Pode-se afirmar que seu traço passou por alguma transformação ao longo do tempo? Ele pode ser considerado definitivo a partir de então?

Minha ilustração é muito variada, eclética mesmo. Além de utilizar várias técnicas como guache, aquarela, lápis de cor, mesa digitalizadora, entre outros, para cada tipo de texto há a necessidade de se usar um tipo de ilustração específico para tal ocasião. E sim, meu desenho mudou e tem mudado muito e nunca deixará de mudar, mas sempre deixando uma marca, uma identidade. Ainda bem.

Falando sobre as temáticas abordadas em suas obras: você costuma ter algum tema recorrente, aquele de estimação, em seus livros? Se houver esse tema, qual a justificativa para tal escolha?

Isso pode variar bastante, pois o tema, às vezes, costuma surgir de uma inspiração, de um acontecimento ou até mesmo de um sonho, mas, por outro lado, ele pode também ser pré-determinado, sobretudo quando é um texto feito por encomenda. Então, posso dizer que eu não escolho os temas, na verdade, são eles que me escolhem.  

Agora, abordando especificamente a produção das histórias em quadrinhos por acabarem envolvendo simultaneamente os dois tipos de linguagem com os quais você trabalha. Gostaria que você explicasse como funciona o seu processo criativo. Existe alguma rotina ou sequência específica?

Varia um pouco, mas, geralmente, a ideia acaba surgindo primeiro. Depois vem a elaboração do personagem, que tipo de traço eu vou usar para contar aquela história e qual técnica usarei. Nessa fase, eu costumo fazer bastantes esboços e estudos, até conseguir encontrar o caminho da narrativa visual. Tudo isso acontece enquanto também estou brigando com o texto, definindo a narrativa, até chegar ao resultado que eu quero para aquele momento.

A respeito do seu mais recente lançamento, divulgado nas redes sociais: o livro “O menino e a avó do menino”. Fale-nos de onde e como surgiu a ideia desse livro e, afinal de contas, o que o leitor pode esperar encontrar dentro dele.

É um livro infantil que surgiu a partir de uma conversa com um amigo que me contava dos cuidados que ele tinha com a avó, já em idade bem avançada. A partir daí, comecei a lembrar de alguns casos envolvendo pessoas de mais idade e comecei a compor a história. O livro trata da perda de memória e da aquisição de memórias, respectivamente, entre a avó e o menino. Acometida por uma enfermidade que a faz voltar a ser criança, a avó encontra no menino, seu neto, o companheiro dessa nova fase de sua vida, enquanto o neto se alegra por ter com quem brincar e, assim, os dois embarcam nessa aventura maravilhosa chamada vida, com muita ternura, muito carinho, compreensão e amor. No final, acabei me dando conta de que escrevi um livro para toda a família.

Para terminar esse nosso bate-papo, gostaria que você falasse um pouco sobre o futuro. O que nossos leitores podem esperar daqui para frente? Restaram alguns projetos ainda guardados dentro da gaveta? Já existe algo em mente? 

A cabeça da gente é uma verdadeira usina. Não para nunca. No momento estou terminando a escrita de dois livros infantis e ilustrando um livro de um amigo muito querido. Nos quadrinhos estou também terminado um projeto muito legal do escritor e jornalista Gabriel Pereira que é o Chairman, um herói cadeirante. Estou muito empolgado com este projeto. Estou também retomando o Quadricordel, que é uma HQ de heróis narrada em cordel e mistura personagens da literatura clássica nacional, em parceria com meu grande amigo e ora entrevistador, Marcio Fabiano. Isso além das tiras semanais que faço para o cine Cauim e um ou outro projeto que surge pelo caminho. Então, caro leitor, pode aguardar que em breve, muito breve teremos novidades por aí.

Arnaldo, foi muito gratificante este bate-papo com você. Espero que nossos leitores tenham apreciado esse momento. Nosso blog agradece a sua disponibilidade que permitiu aproveitarmos essa conversa literária. Desejamos a você um grande futuro repleto de projetos e novas ideias. Até a próxima!

Eu que agradeço pela oportunidade e, repito, pelo privilégio de ser o primeiro entrevistado deste blog. Muito obrigado, Márcio e muito obrigado, leitores. Até mais e, enquanto isso, peço que nos acompanhem pelas redes sociais: @osrarnaldos, @versosembrasa, @arnaldojunioreducacaoearte. Abraços.

Um comentário:

A SEMENTE DA VERDADE (JUNHO 2025)

Imagem gerada por IA    TEMA                São inúmeras as lições de sabedorias contidas nas mais diversas tradições ao redor do mundo po...