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terça-feira, 30 de setembro de 2025

CAMINHO DE PEDRAS (LISTA FUVEST)


 

Caros vestibulandos e leitores, hoje é dia de mais uma análise de um livro da lista da FUVEST. Agora é a vez da obra “Caminhos de pedras”, o terceiro romance da escritora Rachel de Queiroz. O livro foi publicado em 1937, produzido algum tempo antes, quando Rachel foi presa como comunista no Corpo de Bombeiros de Fortaleza, ficando em regime incomunicável, portanto escrito na cadeia. Este livro é considerado o mais engajado de toda a sua carreira. 

Como não poderia deixar de dizer algumas palavras sobre a escritora que começou sua carreira jornalística escrevendo para o jornal quando tinha apenas 17 anos. Aos 19 anos, começou a escrever o romance “O Quinze”. Com sua publicação, em 1930, tornou-se nacionalmente conhecida. Foi presa pelo governo, acusada de ser comunista e permaneceu assim por dois anos. Além do prêmio da Fundação Graça Aranha, também ganhou o Prêmio Jabuti de Literatura Infantil e o Prêmio Camões, a maior honraria dada a escritores de língua portuguesa.

Agora, vamos ao enredo: tudo começa com a chegada de Roberto a Fortaleza, ele é um jornalista encarregado de organizar os simpatizantes do socialismo. É apresentado aos demais membros por Luís, um dos líderes. Durante o discurso de Luís e a reação de alguns membros, percebe-se a divisão entre os operários e os intelectuais. Na visão dos trabalhadores, Roberto não sente na pele a exploração, portanto, não entenderia o sacrifício deles. Essa é uma pauta frequente nos encontros

Nesses encontros estão Angelita e Noemi, cujos maridos já foram participantes, mas desistiram da luta e se afastaram de vez, pois foram presos e perderam seus empregos, ou seja, pagaram um preço bem alto por seus sonhos. Elas resolvem ser militantes, assumem os riscos e se desentendem com os maridos, que as ensinaram a lutar e agora desistiram. O conflito entre Angelita e Assis vai se agravando cada vez mais porque ele enxerga para ela o mesmo destino que foi o dele. Enquanto isso, Noemi deseja ir além: reflete sobre a independência da mulher. Ela, cansada de viver uma vida enfadonha, em um trabalho que não gosta, em um casamento em que o amor acabou, deseja respirar novos ares. 

Logo, ela percebe que toda mulher tem uma luta a mais: os obstáculos criados por uma sociedade patriarcal. Em meio a isso tudo, ela conhece Roberto, apaixonando-se, primeiro por suas ideias, depois por seus sentimentos. Durante as reuniões, eles se aproximam cada vez mais e começam a ter um caso. Aos poucos, Noemi vai se despedindo da sua vida antiga e começando a construir uma nova, mas ainda é afetada pelo remorso devido a sua traição, por isso, depois de um tempo, pede a separação. Seu marido João Jacques se convence que não existe mais amor entre eles e vai embora de casa para deixar o caminho livre para Roberto. Agora, marcada como uma mulher divorciada, Noemi perde o seu emprego e, para agravar sua situação, seu filho, “Guri”, morre repentinamente por uma doença misteriosa. 

Apesar de tantos reveses, ela continua com Roberto em sua militância e, em um ato arriscado de panfletagem, os dois acabam presos, mas ela é liberada por estar grávida e termina o romance subindo, sozinha, uma ladeira de pedras, tropeça e se dá conta que terá um longo e árduo caminho pela frente. 

Quanto aos elementos, o foco narrativo é em terceira pessoa onisciente, com um narrador externo que tudo sabe. Essa forma dá acesso total ao leitor sobre os acontecimentos. O espaço, um tanto quanto restrito, limita-se ao redor da praça de Fortaleza, lugar propício às manifestações populares e manifestações. Nas imediações ocorrem os encontros sempre na clandestinidade. Nessa obra, a passagem do tempo é cronológica e não nos traz grandes mudanças, mas, quanto à sua marcação histórica, destaca-se o período da Era Vargas, momento de perseguição aos comunistas e simpatizantes. 

Sobre as temáticas presentes, a obra contempla uma sociedade em transição, na qual as mulheres começam a refletir sobre suas posições e papeis, representadas por Noemi, que decide atender seus desejos, mesmo às custas dos julgamentos da sociedade que enxerga a mulher apenas como mãe, esposa e dona de casa. Ela resolve enfrentar a tudo e a todos por sua felicidade. Caminho de Pedras é considerado um dos romances mais engajados de Rachel de Queiroz. A obra é marcada pelo distanciamento da autora do comunismo, refletindo críticas ao movimento. Mais uma vez, a autora nos revela uma mulher forte, protagonista, em sua luta por liberdade e um lugar ao sol. 

Paralela a esta luta, existe a luta de classes que segue adiante e que, apesar de pregar a igualdade, os homens ainda não tratam as mulheres como pares. Além disso, pode-se observar na obra um movimento todo dividido em duas classes: os operários e os intelectuais, mostrando uma autora que começa a se afastar da ideologia por causa das desilusões que vai sofrendo. 

A narrativa é marcada por um tom introspectivo mesclado a críticas sociais. Por meio de uma linguagem direta e clara, o leitor é convidado à reflexão. Nota-se ainda sua habilidade na construção das personagens femininas, acompanhada de um tom emocional intenso.  O título é a completa e precisa metáfora do caminho que Noemi decide traçar em direção à sua liberdade total. Vê-se uma mulher que ficou sem nada, mas continua a jornada sem perder as esperanças. 

QUEIROZ, Rachel de. Caminho de pedras. Rio de Janeiro: José Olympio, 2025.


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