![]() |
Imagem obtida por IA |
“Clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer.”
Desde a tenra idade
quando, após uma longa espera, enfim, acreditei ter dominado suficientemente as
letras e então ter me tornado um leitor de verdade, caminhei todo confiante até
a biblioteca da minha cidade, pois minha escola, pasme o caro leitor, não
possuía uma (ideia praticamente inconcebível para alguns). Ao receber a
tradicional carteirinha, foi como se eu estivesse agora em posse de um
passaporte que me permitiria fazer as mais diversas – e por que não ilimitadas
– viagens.
A diferença e, para
mim, a grande vantagem que eu passava a ter: não havia qualquer barreira, fosse
no tempo ou no espaço, que eu não pudesse transpor. Com a bagagem sempre pronta
(imaginação fértil e predisposta), foi assim que comecei a decolar em meus
primeiros voos, tendo por porta de entrada os volumes da “Coleção vaga-lume”.
Se você, caro leitor, por acaso, sabe de que livros eu estou falando,
comungamos agora do mesmo clima nostálgico e, consequentemente, acabamos de
revelar um pouco sobre a quantidade de primaveras que já acabamos por colher
nos jardins de nossa existência.
Voltando às minhas
lembranças de leitor: durante muito tempo, assim como a maior parte das
crianças e adolescentes de minha época, acreditei ser a literatura
(materializada nos livros) uma fuga bem-sucedida dessa nossa realidade um tanto
quanto entediante. Porém, fui crescendo, ganhando mais estatura enquanto meus
livros aumentavam em volume de páginas e, posso dizer, sem sombra de dúvidas,
que nosso processo de amadurecimento foi acontecendo de forma simultânea. Sim,
crescemos juntos como inseparáveis amigos de infância.
E agora você pode estar
se perguntando: “Que diabos isso tem a ver com o tema dessa coluna?”. E eu te
respondo: tudo. Conforme fui me aprofundando na leitura dos chamados “clássicos”,
comecei a compreender que ler um livro para fugir da realidade é, na verdade,
um tiro pela culatra. Por quê? Por mais ficcional que um livro seja, (acredite
em mim!) ele sempre nos conduzirá de volta para a realidade novamente. Como
será possível? Eis que agora chegamos ao ponto de partida dessa coluna, amigo
leitor.
O grande filósofo
Aristóteles via as artes (entre elas a literatura) como uma imitação perfeita
das imperfeições da natureza, enquanto Platão, outro pensador, determinava como
arte o que foi feito pelo homem e que imitava algo. Assim sendo, essa dualidade
ficção/realidade existente nos livros, assim que descoberta por este assíduo
leitor que vos fala, mais ainda causou em mim fascinação e encanto pelas obras
já lidas e por muitas as quais haveriam de vir.
O tempo passou, como
sempre implacável e, algumas centenas de livros mais tarde, tornei-me professor
de literatura. Hoje, posso afirmar, com maior convicção ainda, que quem
considera a literatura como uma verdadeira fuga do mundo real, pode estar redondamente
enganado. Essa coluna é sobre isso: o quanto a literatura tem a ver conosco,
com nossas vidas e nossa realidade cotidiana; que os livros, em especial os
clássicos, sobre os quais se deu minha formação de leitor e especialista, não
estão distantes de nossa compreensão ou até mesmo interesse.
Por mais únicos que pareçam
Werther, Gregor Samsa, Quasímodo, Capitu, Romeu e Julieta, Dom Quixote, Hamlet,
Policarpo Quaresma, entre outros tantos, eles são inspiração nascida do meio
dos homens comuns e reais. Se Camelot, Liliput, Terra do Nunca ou ainda Nárnia,
parecem de uma criatividade sem limites; garanto que você pode encontrar
discretos traços desses lugares ao redor do mundo.
Eu convido a você,
curioso leitor, a um passeio semanal pelo mundo da literatura clássica para que
possamos juntos, eu e você, desfrutarmos de uma experiência que os livros podem
proporcionar: uma viagem maravilhosa, tendo a ficção como ponto de partida e a
realidade como linha de chegada, provando, por meio da vivência, que a
literatura nunca foi distante da realidade, muito menos pode ser considerada
uma arte inacessível e excludente.
A viagem vai começar e
eu conto com você para me acompanhar, a partir da próxima semana. Você tem sete
dias para fazer os preparativos, separe seu passaporte. Eu espero por você.
CALVINO,
Ítalo. Por que ler os clássicos. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007.
Viagem sensacional! Aceito o convite, aqui estarei ns próxima semana novamente! Uhhuuu
ResponderExcluirQue maravilha de convite, amei a leitura e já estou com passaporte em mãos, aguardo a próxima viagem. Parabéns meu nobre!!
ResponderExcluirVale a(s) viagem(ns), vale a ideia. Vida longa para elas.
ResponderExcluirPreparado desde já! Sucesso!
ResponderExcluirSucesso, meu amigo! Bora viajar!
ResponderExcluirParabéns, poeta. Bola pra frente.
ResponderExcluirParabéns , Márcio!!!
ExcluirExcelente e incentiva à leitucra e ao conhecimento
ResponderExcluirÉ um convite tentador.
ResponderExcluirMuito bom e inspirador. Esse é o meu, nosso universo, o das ideias, dos textos, livros e similares. Parabéns pela iniciativa. Grande abraço.
ResponderExcluirConvite irrecusável!
ResponderExcluir👏👏👏👏👏👏👏
Adorei a leitura!
Incrível, Márcio nunca decepciona! Ele é o melhor. ❤️
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirParabéns Márcio! Amei a leitura 👏
ResponderExcluirAprendi, desde cedo lendo, que para escrever um livro teria que ler antes uma biblioteca e apesar de não tê-la lido ainda, já me aventuro no mundo da poesia. Parabéns caro amigo e também já estou de malas prontas para viajarmos juntos.
ResponderExcluirParabéns, Márcio. Bela inciativa.
ResponderExcluirParabéns, Márcio!! Você é Fera!!!
ResponderExcluirParabéns M.F você é um grande poeta e escritor, conseguiu imprimir num texto dissertativo o mesmo lirismo poético da sua poesia. Concordo com tudo o que disse e vou continuar a discussão no seu particular.
ResponderExcluirParabéns, poeta, texto maravilhoso.
ResponderExcluirParabéns Márcio Fabiano. Bela iniciativa, e belo trabalho.
ResponderExcluirParabéns! Ótimo texto!
ResponderExcluir