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Vinícius, 18 - estudante |
Em O Pianista, Władysław Szpilman, um pianista judeu polonês, narra um dos momentos mais difíceis de sua vida: a ocupação nazista da Polônia. O livro mostra como os judeus foram privados de sua humanidade como mais uma forma de tortura nazista. Em 23 de setembro de 1939, Szpilman tocava na rádio "Noturno em dó menor" de Chopin enquanto Varsóvia era bombardeada. Essa foi a última transmissão de música na rádio ao vivo em Varsóvia. Com a rendição polonesa em 6 de outubro de 1939, a vida dos judeus muda totalmente, eles são obrigados a usar a estrela de Davi, sofrem restrições, perseguição e então são confinados no Gueto de Varsóvia.
Dentro do
Gueto, Szpilman e sua família vivem a fome, doenças e a violência dos nazistas,
que matavam sem piedade e não poupavam nem mesmo as crianças. Durante as
deportações para os campos de concentração, Szpilman relata quando crianças
órfãs são deportadas para o campo de Treblinka, naquele momento ele narra como
elas, bem vestidas e limpas, vão direto para os trens que as levariam à morte
em uma câmara de gás, sem saberem o que aconteceria.
Com as
deportações, toda sua família é deportada para o Campo de Treblinka, um campo
que, diferente de Auschwitz-Birkenau, não servia para trabalho, somente para
exterminar os judeus. Diferente de sua família, ele escapa após um membro da
polícia judaica o salvar da morte. Szpilman, após escapar da deportação, começa
a narrar como teve que trabalhar no Gueto para se salvar de Treblinka e como
ele conseguiu ajuda para fugir do Gueto e se esconder em esconderijos por meses
até ter que fugir para não ser descoberto pelos nazistas.
Quando os
soviéticos estão chegando a Varsóvia para libertar a cidade, ele encontra um
piano em uma casa e toca "Noturno em dó menor" para um capitão alemão
chamado Wilm Hosenfeld, que o ajudou a se salvar, oferecendo abrigo e comida
até o exército vermelho libertar a capital polonesa. Szpilman não sabia o nome
do capitão até 1951. Ele quis ajudar o capitão, que havia se tornado
prisioneiro de guerra a ser libertado, mas, apesar dos esforços de Szpilman e
dos poloneses para salvá-lo, Hosenfeld morreu num campo de prisioneiro de
guerra soviético em 1952. Szpilman escreveu o livro em 1946, logo após o final
da guerra, porém seu livro foi censurado pelas autoridades stalinistas e
Szpilman teve que mudar a nacionalidade do capitão para austríaco, para não
representar um alemão salvando judeus.
Szpilman
descreve os horrores que presenciou com uma frieza cortante. No livro não há
romanização, e sim a verdade de quem viu a civilização ruir. E é exatamente
essa falta de heroísmo forçado que torna o livro impactante. Ele não sobrevive
por meio de forças sobrenaturais, mas por acaso, astúcia e, às vezes, a pura
sorte. A música aparece como o último resquício de humanidade em meio ao caos.
A cena em que Szpilman toca Chopin para um oficial nazista é uma das partes
mais simbólicas e uma parte de beleza em meio à ruína moral da guerra.
A escrita é
objetiva e direta. Szpilman não busca piedade ou dó do leitor, apenas relatar
os fatos. Cada página carrega silêncio e morte. O livro também faz refletir
sobre a fragilidade da civilização, o quão rápido a cultura e a razão podem se
desintegrar quando o ódio assume o comando. O Pianista é mais do que um relato
histórico, é uma denúncia contra o esquecimento, é o lembrete do que o ódio
pode fazer com milhares de pessoas inocentes.
SZPILMAN,
Wladyslaw. O pianista. São Paulo: Record, 2024.
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