Hoje, na estreia do nosso espaço “De papo com o escritor”, temos a
honra de receber o múltiplo artista e meu grande parceiro de projetos, Arnaldo
Júnior. Para começar, vamos apresentar aos leitores um pequeno resumo de suas
tantas atividades:
Arnaldo Martinez de Bacco Junior é professor de História, mestre e
doutor em Educação, também é fanzineiro, cartunista, ilustrador, poeta,
escritor (principalmente de literatura infantil e cordel) e ainda se atreve a
fazer quadrinhos, roteirizando e/ou desenhando. Gosta de trabalhar em parceria
e tem um montão de trabalhos publicados por aí. Participou dos zines Boca de
Porco, O Travessão, Os Arnaldos Zine, Fede e muitos outros. Faz parte dos
Coletivos Z, RPHQ e Escape para o Perigo. Seus quadrinhos mais significativos
são: A Garota Perigo, Cospe Fogo, Ike o viajante do tempo, Cabelo, Pagando
Micos e o Homem sem Graça Nenhuma. Em literatura infantil publicou Poemas
Siderais (com André Oliveira, Alexandre Azevedo e Marciano Vasques), Dani Down
um menino legal, O maior campeonato de todos os tempos e Histórias Avoadas,
todos em parceria com André Oliveira e O menino e a avó do menino pela Caravana
Editorial. Também ilustrou “Ribeirão Preto para as crianças” com textos de
Ângelo Davanço, para a revista Revide. Em cordel, compôs e ilustrou diversos
folhetos, muitos em parceria com Marcio Fabiano. Seus trabalhos podem ser
vistos nas redes sociais: @osarnaldos,
@versosembrasa e @arnaldojunioreducacaoearte.
Arnaldo, gostaria de dizer que é uma grande satisfação receber você
aqui nesse espaço. Seja muito bem-vindo ao “De papo com o escritor”.
Muito obrigado, Márcio. É um prazer estar aqui e falar um pouquinho com
os seus leitores sobre o meu trabalho. Também é uma honra muito grande poder
abrir a sessão de entrevistas deste blog literário. Desejo a este blog muito
sucesso e vida longa.
São tantas e variadas as atividades que você desenvolve na sua carreira
artística, mas que se dividem, praticamente, em dois grandes grupos: a escrita
e a ilustração. Pode nos contar como cada uma delas surgiu na sua vida? Como
foi que se deu esse contato?
Começando pela ilustração, que é
mais simples, o que posso dizer é que todos nós desenhamos quando crianças, mas
depois, por razões diversas, principalmente as críticas dos adultos, vamos
abandonando. Eu nunca parei. Continuei desenhando e soltando a imaginação e aí,
talvez, a partir de um certo tempo, carregado pela escrita. Essa me chegou
primeiro pelos ouvidos, nas leituras que minha mãe fazia na hora de dormir, nos
programas de rádio em que eu ouvia as narrativas da coleção Disquinho do
saudoso Braguinha. Além disso, meu pai tinha uma pequena tipografia e lá, com
ele, fui aprendendo as primeiras letras, rodeado de papel e tinta gráfica.
Então, este conjunto de coisas foi fazendo em mim um apaixonado pela imagem e
pelas letras.
Tanto na sua vida de escritor quanto na sua vida de ilustrador, você
chegou a ter algumas grandes referências (profissionais, artísticas) que o
ajudaram em seu desenvolvimento técnico e na busca do rumo verdadeiro na sua
carreira? Como foi essa trajetória?
As influências são fundamentais
na vida de quem trabalha com criação e digo “fundamentais” no sentido de
fundamento mesmo, alicerce. Para mim, as maiores influências vieram dos
quadrinhos e da música. Sempre gostei muito de quadrinhos e lia tudo, de Pato
Donald a Spirit, de Mafalda a Valentina, de Tarzan a Pasquim. Inegável que esse
contato com traços tão diferentes contribuiu na minha formação enquanto
ilustrador, enquanto as letras de música foram minhas primeiras influências na
escrita. Na adolescência, eu queria ser músico e foi assim que comecei a
escrever minhas primeiras letras, meus primeiros versos.
Permanecendo ainda nesse caminho de um paralelo entre essas duas
linguagens utilizadas nos seus trabalhos, poderia nos dizer qual o maior
desafio que cada uma delas oferece para que o artista possa se fazer
compreendido?
A escrita flui mais fácil,
geralmente, enquanto a ilustração exige mais técnica, mais trabalho e
equilíbrio. Quando ilustro um trabalho, meu ou de outro autor, preciso estar
atento ao equilíbrio. A ilustração não pode ser somente uma repetição do que já
está escrito nem pode criar uma outra narrativa para além do que o escritor
deseja passar aos leitores. Então, seguramente, ilustrar acaba sendo um desafio
maior.
Vamos fazer aqui uma pequena lista dos gêneros: história infantil,
poesia, cordel, história em quadrinhos, fanzine, charge. Só de enumerar, já
parece tanta coisa. Pensando em rotina e tempo hábil, como é se desdobrar entre
tantos tipos de gêneros tão diferentes entre si e como se organizar para dar
conta de toda essa produção?
Sinceramente não sei, rsrsrsrsrs.
A poesia, a charge, as tirinhas, os contos infantis, foram surgindo
naturalmente, sem que eu me desse conta. Então, de repente, vem uma ideia de
charge ou de história em quadrinhos, ou de poema, se cordel ou verso livre,
isso não tem hora para acontecer. É a necessidade do momento, do que quero
transmitir, que determina o veículo. Acho que é isso, mas francamente não sei
mesmo responder essa pergunta.
Nota-se que toda a sua produção, de uma forma geral, acaba sendo
direcionada para o público pré-adolescente e mais ainda para o infantil. Olhando
para sua biografia, o fato de ser professor e, depois, de ser avô, exerceu
alguma influência na escolha por esse público?
Certamente que estar próximo dos
jovens e principalmente dos mais jovens ainda, vai exercer um peso considerável
quando estou produzindo alguma coisa, seja texto, seja imagem. Mas tenho também
um lado mais adulto, mais reflexivo, embora pouco divulgado, até porque as
produções literárias voltadas para os mais jovens têm tomado um bom espaço nas
coisas que faço.
Ao analisar sua obra como um todo, observa-se que você possui vários
trabalhos solo, mas o que chama mais a atenção é a quantidade de produções em diversas
parcerias. Como é essa questão de trabalhar com outros autores, dividir a
autoria de uma mesma obra?
Embora boa parte de minha
produção seja de trabalhos solo, gosto muito de trabalhar em parcerias e isso
vem desde a minha adolescência. Dentre os vários parceiros, tive e tenho a
honra e o prazer de trabalhar com Cordeiro de Sá, Vitor Pandão, David Lima,
Karen Fagu, Denis Pimentão, Josy, Lucas Lourenço, Vinil, Alexandre Peixoto,
Camilo, Zé Luís Jabá, Lucas Busatto, Julinho Nascimento, Evandro Navarro e meus
parceiros mais assíduos: André Oliveira, Arnaldo Neto, Ângelo Davanço e Marcio
Fabiano. Desenhando, escrevendo, compondo... é muito gratificante e só tenho a
agradecer a essas pessoas incríveis.
Agora, tratando especificamente sobre a ilustração: após tanto tempo
desenhando, como você descreveria o seu estilo hoje? Pode-se afirmar que seu
traço passou por alguma transformação ao longo do tempo? Ele pode ser
considerado definitivo a partir de então?
Minha ilustração é muito variada,
eclética mesmo. Além de utilizar várias técnicas como guache, aquarela, lápis
de cor, mesa digitalizadora, entre outros, para cada tipo de texto há a
necessidade de se usar um tipo de ilustração específico para tal ocasião. E
sim, meu desenho mudou e tem mudado muito e nunca deixará de mudar, mas sempre
deixando uma marca, uma identidade. Ainda bem.
Falando sobre as temáticas abordadas em suas obras: você costuma ter
algum tema recorrente, aquele de estimação, em seus livros? Se houver esse
tema, qual a justificativa para tal escolha?
Isso pode variar bastante, pois o
tema, às vezes, costuma surgir de uma inspiração, de um acontecimento ou até
mesmo de um sonho, mas, por outro lado, ele pode também ser pré-determinado,
sobretudo quando é um texto feito por encomenda. Então, posso dizer que eu não
escolho os temas, na verdade, são eles que me escolhem.
Agora, abordando especificamente a produção das histórias em quadrinhos
por acabarem envolvendo simultaneamente os dois tipos de linguagem com os quais
você trabalha. Gostaria que você explicasse como funciona o seu processo
criativo. Existe alguma rotina ou sequência específica?
Varia um pouco, mas, geralmente,
a ideia acaba surgindo primeiro. Depois vem a elaboração do personagem, que
tipo de traço eu vou usar para contar aquela história e qual técnica usarei.
Nessa fase, eu costumo fazer bastantes esboços e estudos, até conseguir encontrar
o caminho da narrativa visual. Tudo isso acontece enquanto também estou
brigando com o texto, definindo a narrativa, até chegar ao resultado que eu
quero para aquele momento.
A respeito do seu mais recente lançamento, divulgado nas redes sociais:
o livro “O menino e a avó do menino”. Fale-nos de onde e como surgiu a ideia
desse livro e, afinal de contas, o que o leitor pode esperar encontrar dentro dele.
É um livro infantil que surgiu a
partir de uma conversa com um amigo que me contava dos cuidados que ele tinha
com a avó, já em idade bem avançada. A partir daí, comecei a lembrar de alguns
casos envolvendo pessoas de mais idade e comecei a compor a história. O livro
trata da perda de memória e da aquisição de memórias, respectivamente, entre a
avó e o menino. Acometida por uma enfermidade que a faz voltar a ser criança, a
avó encontra no menino, seu neto, o companheiro dessa nova fase de sua vida,
enquanto o neto se alegra por ter com quem brincar e, assim, os dois embarcam
nessa aventura maravilhosa chamada vida, com muita ternura, muito carinho,
compreensão e amor. No final, acabei me dando conta de que escrevi um livro
para toda a família.
Para terminar esse nosso bate-papo, gostaria que você falasse um pouco
sobre o futuro. O que nossos leitores podem esperar daqui para frente? Restaram
alguns projetos ainda guardados dentro da gaveta? Já existe algo em mente?
A cabeça da gente é uma verdadeira
usina. Não para nunca. No momento estou terminando a escrita de dois livros
infantis e ilustrando um livro de um amigo muito querido. Nos quadrinhos estou
também terminado um projeto muito legal do escritor e jornalista Gabriel
Pereira que é o Chairman, um herói cadeirante. Estou muito empolgado com este
projeto. Estou também retomando o Quadricordel, que é uma HQ de heróis narrada
em cordel e mistura personagens da literatura clássica nacional, em parceria
com meu grande amigo e ora entrevistador, Marcio Fabiano. Isso além das tiras
semanais que faço para o cine Cauim e um ou outro projeto que surge pelo
caminho. Então, caro leitor, pode aguardar que em breve, muito breve teremos
novidades por aí.
Arnaldo, foi muito
gratificante este bate-papo com você. Espero que nossos leitores tenham
apreciado esse momento. Nosso blog agradece a sua disponibilidade que permitiu
aproveitarmos essa conversa literária. Desejamos a você um grande futuro
repleto de projetos e novas ideias. Até a próxima!
Eu que agradeço pela oportunidade
e, repito, pelo privilégio de ser o primeiro entrevistado deste blog. Muito
obrigado, Márcio e muito obrigado, leitores. Até mais e, enquanto isso, peço
que nos acompanhem pelas redes sociais: @osrarnaldos, @versosembrasa,
@arnaldojunioreducacaoearte. Abraços.