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sexta-feira, 7 de novembro de 2025

NÃO DEIXE DE ACREDITAR

Crédito: Dima Valkov (PEXELS)

Mesmo que te seja a vida

Tão difícil caminhar

E a estrada longa demais

Para ao fim poder chegar

Comece com um só passo

Não deixe de acreditar.

 

Quando num mar de problemas

Você teme se afogar

E a tábua de salvação

Impossível de alcançar

Nade com todas as forças

Não deixe de acreditar.

 

Quando a escuridão da noite

Começa a te sufocar

Coração envolto em trevas

Nada podendo enxergar

Espere o raiar do sol

Não deixe de acreditar.

 

Mesmo que o mundo ao redor

Contra você conspirar

Tentar roubar sua paz

E a sua fé machucar

Encontre o seu equilíbrio

Não deixe de acreditar.

 

Caso o vírus da mentira

Queira te contaminar

Dizendo que o importante

É você se aproveitar

Defenda sempre a verdade

Não deixe de acreditar.

 

Se o mundo te menospreza

Para baixo a te jogar

Dizendo que nada pode

Que é inútil se tentar

Mostre a ele a tua força

Não deixe de acreditar.

 

Se a vida parece curta

Pra tanto realizar

E o tempo tal qual ladrão

Seus momentos quer roubar

Aproveita a cada instante

Não deixe de acreditar.

 

Quando a voz da solidão

Pertinho te sussurrar

Que não tem ninguém contigo

Para ao teu lado ficar

Ninguém nunca está sozinho

Não deixe de acreditar.

 

Se o mal parecer eterno

Pronto pra te devorar

Forçando tua desistência

Pois é inútil lutar

Sinta a chama da bondade

Não deixe de acreditar.

 

Se a morte ronda teus passos

Insistindo em explicar

Que a tua hora chegou

Que não há nada a tentar

Cada vida é um milagre

Não deixe de acreditar. 

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

CERIMONIAL

Crédito: Emmanuel (PEXELS)

Faz-se noite agora no fim do mundo

Do cume das montanhas rochosas

Pairam imponentes obeliscos moldados a mãos divinas...

 

Uma legião de horrendos elementais

Cavalga indomáveis e selvagens tornados...

O trote desgovernado dos fogosos corcéis

Precipita-se adiante a conduzir almas

Rumo à escuridão do abismo do esquecimento

 

A profunda garganta negra permanece escancarada

À espera, faminta por novos sacrifícios.

O som característico do desespero

Em breve abafado pelas trevas opressoras.

 

Cada prece reduz-se ao silêncio

E num passo de segundos

A paisagem recupera seu marasmo

Pronta para o próximo holocausto.

terça-feira, 4 de novembro de 2025

O VALE DOS SENTIMENTOS (NOVEMBRO 2025)

Crédito: Arnaldo Júnior

 TEMA

Muitos são os contos antigos que nos chegam, difundidos em diversas versões, que tratam sobre lições de valor. Claro que encontramos uma boa parte deles cuja abordagem assemelha-se ao tom moralizante das fábulas, mas, por outro lado, muitas são as histórias que nos encantam, em especial aquelas que trabalham com as analogias, utilizando-se do mesmo expediente das parábolas: o de transformar toda e qualquer abstração em elementos concretos.  Dentre esses contos, li há muito tempo atrás uma versão (pois existem tantas e tão interessantes) de “O vale dos sentimentos”, de autoria desconhecida, em uma revistinha da Turma da Mônica e fiquei encantado. Tantos anos depois, não resisti à tentação de adaptar para o cordel essa história, que ainda trago nítida na minha lembrança de leitor, criando também a minha versão.

SINOPSE

Em um lugar distante de nossa realidade, existe um maravilhoso vale e, no seio desse vale, há uma pequena e charmosa vila, com casinhas coloridas, cada uma decorada à sua maneira. Apesar de parecer um lugar como qualquer outro, o que faz desse local extraordinário é o fato de que nele vivem reunidos todos os sentimentos em um clima de harmonia mesmo com as diferenças entre eles. No centro do vale, vive o mais importante dos sentimentos. Num belo dia de sol, a raiva, único sentimento a morar sozinha e isolada dos demais, está elaborando mais um de seus planos maléficos ao preparar uma poção muito poderosa e assustadora que se precipita sobre o vale. Não perca essa bela analogia ao comportamento humano, adaptada para o cordel de um conto antigo e de origem desconhecida.

A história que agora conto

É antiga de verdade,

Lá do começo dos tempos

Por volta da antiguidade.

Vem de uma longínqua época

Bem antes da humanidade.

 

Bastante longe daqui.

Muito, mas muito distante,

Em um canto deste mundo,

Sem mais terras adiante,

Existia em segredo

Um lugar interessante.

 

Lá onde o grande oceano

Acaba numa montanha.

Era um gigante maciço

De uma altitude tamanha

Que guardava um belo bosque

No fundo de sua entranha.

 

Um campo de vivo verde

Se estendia como um manto

Por cada palmo de terra,

Encobrindo a todo canto,

Como o mais nobre tecido

Fiado qual por encanto.

 

Logo após um grande vale,

Por todos lados florido.

Ao fundo uma cachoeira,

Um lago bem colorido

Que abrigava no seu centro

Um reino desconhecido.

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

A IMPOSSIBILIDADE DE FUGA DA REALIDADE

Crédito: Albert Fourie (PICRYL)

 “Parecia-lhe que certos lugares na terra deviam produzir felicidade, como uma planta particular ao solo e que cresce mal em outro lugar”.

                 Sejam bem-vindos, caro leitor e cara leitora. Estamos nós aqui de volta a esse mundo sem fronteiras que é a literatura. Prontos para uma nova aventura? Espero que todos já estejam refeitos de nossa última viagem, cujo desfecho nos deixou recordações tão trágicas. Agora, sem mais delongas, porque, como disse um dia o poeta latino Virgílio: “sed fugit interea, fugit irreparabile tempus” (entretanto foge, foge o irreparável tempo), peço que embarquemos imediatamente, nessa segunda-feira (dia oficial da preguiça), partindo da Alemanha em um voo bem curto até a França, nosso exato destino, também com um pequeno avanço no tempo: para o ano de 1857.

                Permitam-me apresentar Emma, uma jovem criada na tranquilidade do campo e educada em um convento. Seu maior passatempo era a leitura de romances, gênero típico da época. Nas narrativas, Emma mergulhava de cabeça em enredos que a fizessem fugir da sua vida, considerada por ela, entediante e sem atrativos. As aventuras passionais e reviravoltas não tão imprevisíveis faziam com que a jovem esquecesse um pouco o marasmo em que vivia, expediente semelhante que os leitores poderão encontrar na obra “O primo Basílio” de Eça de Queiroz.

                Surge, então, Charles Bovary, um médico interiorano, que acaba por se encantar pela moça. Ela vê no rapaz uma oportunidade de escapar daquela sua vidinha. Casamento marcado, esperanças conservadas e, por que não dizer, o nascimento de altas expectativas quanto ao futuro.  Emma traz para o novo lar uma bagagem repleta de sonhos: de uma vida de romance ardente; da paixão como uma chama inextinguível; meras recriações dos tantos romances que lera escondida.

                Acontece que Charles não era um homem ambicioso, tampouco tinha consigo uma paixão ou algum sonho pelo qual valia a pena lutar. Assim, podemos dizer que ele levava uma vida sem a maior das pretensões ou perspectivas de futuro. Não estava na profissão que desejava, por isso a dificuldade para terminar o curso e ser admitido como médico. Com certeza, o caro leitor já deve imaginar que tal união tenha tudo para fracassar... e que essa velha história de que os opostos se atraem é tudo conversa fiada, não é? Você não é o único a pensar assim, meu caro. Não são necessários muitos dias para que Emma perceba que aquela vida de casada que ela almeja, na verdade, não existe, ao menos no seu caso específico, como se observa naquela música do Chico Buarque: “Agora era fatal que o faz-de-conta terminasse assim / Pra lá deste quintal era uma noite que não tem mais fim...”

                Entediada e tomada pela mesmice (ela tem uma empregada para fazer as tarefas domésticas), Emma busca alguma forma para preencher seu tempo e sua monotonia com algo que realmente valha a pena. E aí, caro leitor, acho muito oportuno um ditado das antigas que diz “Cabeça vazia, oficina do diabo”. Emma resolve tentar viver aquelas aventuras que ilustravam as narrativas românticas, aquelas pelas quais tanto ansiava em sua vida a dois. Neste momento, entra em cena um tema antes nunca citado nos romances: o adultério. Ela passa a encontrar-se com outros homens, construindo uma vida paralela. Além disso, contrata um estilista para adquirir novas roupas, para assim poder sentir-se melhor. Resolução essa que vai gerar uma dívida exorbitante.

                Dentre seus amantes, um se destaca: Rodolphe, um rico proprietário da região, um verdadeiro estereótipo do conquistador barato, aquele com suas frases prontas e os gestos cafonas que transmitem a impressão de um verdadeiro cavalheiro, lembrando-me imediatamente do personagem Basílio, do livro já citado anteriormente. Cá entre nós, meu caro leitor, eles parecem a mesma personagem (podendo ser pura coincidência – ou não), com pouquíssimas diferenças. Emma parece enfim saciar sua fome de amar e ser amada, como naquela música do Roberto Carlos: “Nos lençóis macios / Amantes se dão / Travesseiros soltos / Roupas pelo chão / Braços que se abraçam / Bocas que murmuram...” A vida parece ter tomado um rumo certo, pelo menos para ela. Sabe aquela sensação de ter a vida que se pediu a Deus e de que nada poderá dar errado?      

                Mas cabe a mim a ingrata tarefa de trazer o leitor de volta a terra e pôr os pés no chão, pois é assim que se procede em um romance realista, do qual Madame Bovary é o primeiro exemplar, o precursor, o primeiro de muitos que virão a seguir e que encontrarão grandes autores pelo mundo, como o nosso insuperável Machado de Assis. Nestes enredos só há uma lei a se seguir: a de causa e consequência e, dentro desta lei, gosto de lembrar uma das Leis de Murphy: “Se uma coisa pode dar errado, ela vai dar errado”. Ah! Pobre Emma, embora tenha nascido tantos anos antes dessa máxima, poderia ter dado ouvidos à voz da prudência. Porém, cega pelo seu ultrarromantismo (eu já te avisei diversas vezes antes, caro leitor, que o Romantismo é um perigo) acaba acreditando que poderá fugir do seu medíocre médico interiorano, aquele homem sem interesses que valeriam a pena, sem desejos ou luxos, que atendia moribundos o dia todo e que só chegava ao lar ao fim do dia sem uma história interessante pra contar.

                Ela propõe ao seu amante fugirem para sempre, para um lugar distante, onde sua vida será um eterno romance, digno das páginas de um talentoso Alexandre Dumas ou de um Walter Scott, afirmando que eles podem ser felizes para sempre como nos contos de fada. Contudo ela não sabe que, para Rodolphe, ela é apenas mais uma. Ele é um homem solteiro, um aventureiro, sem compromisso algum com alguém. Ela é uma bela distração, mas não vai colocá-lo para cantar só para ela em uma gaiola de ouro. Ele espera pela oportunidade perfeita para descartá-la, como já fez com tantas outras. Ao se dar conta de que seu castelo de areia desmoronou-se de vez: agora sem honra e endividada, Emma entra em pânico. De volta ao mundo real, ela sabe que para certas coisas nessa vida não há volta.

                O romance realista vem a ser uma reação ao mundo criado pelos românticos e seus finais felizes. Ele vem apontar o casamento burguês como uma grande ilusão, um show de aparências. Seus escritores colocam o enlace perfeito em xeque. Pela primeira vez na literatura, trata-se do cotidiano do matrimônio e de seu fracasso. Por que nunca se tinha falado de adultério? Já discutimos no nosso livro anterior que os homens acham que o fato de não se discutir um problema é uma forma de resolvê-lo, que fingir que ele não existe seja uma ótima estratégia. Também porque muitos chegavam a ver o adultério como uma alternativa para provar um pouco daquela paixão que não se tinha no casamento. Cada ideia que se tem...

                Mencionando a frase citada no início do artigo, Emma procura pela felicidade como um tesouro escondido numa ilha, aquele lugar especial que está distante da nossa visão, para o qual existe uma palavra mágica que faça abrir a porta. Ela nunca pensa na possibilidade de construir o seu sonho de futuro, que ser feliz não é um bilhete de loteria, um prêmio aleatório, mas que é fruto de todo um esforço, acompanhado do resultado das escolhas que fazemos. Por que não fazer da felicidade o aqui e agora, transformando o real, em vez de esperar sempre pelo depois e pelo lá distante. Isso tudo me faz lembrar o final do fantástico soneto do parnasiano Vicente de Carvalho, sobre a felicidade: “Essa felicidade que supomos / Árvore milagrosa que sonhamos / Toda arreada de dourados pomos / Existe, sim: mas nós não a alcançamos / Porque está sempre apenas onde a pomos / E nunca a pomos onde nós estamos”. Caro leitor, que cada um de nós possa encarar a realidade e dela construir nossa real felicidade. Até a próxima.

 FLAUBERT, Gustave. Madame Bovary. São Paulo: Martin Claret, 2015.    

 

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

COMBATE O MAL COM O BEM

Crédito: Ron Lach (PEXELS)

Há quem diga que na vida

Só se pode ir muito além

Ficando acima dos outros

E não poupando ninguém

Mas não se deixe levar

Combate o mal com o bem.

 

Se no mundo da aparência

Só se conta o que se tem

Se o fim justifica os meios

E ambição não se detém

Não se deixe corromper

Combate o mal com o bem.

 

Num mundo que não há regras

Nenhum princípio contém

Você faz o que quiser

Mas nem tudo lhe convém

Não venda seus ideais

Combate o mal com o bem.

 

Se o irmão bem ao seu lado

Do perdão se abstém

Que sua brutalidade

De outros brutos advém

Não use a mesma moeda

Combate o mal com o bem.

 

Se a lei do olho por olho

Falsa justiça entretém

E todo aquele que fere

Ferido será também

Não é mais do que vingança

Combate o mal com o bem.

 

Para quem acha que os brutos

Só com força se mantêm

E que a guerra traz a paz

Não vê que existe um porém

Ódio gera apenas ódio

Combate o mal com o bem.

 

Se é mais fácil revidar

Agredindo sempre alguém

Achando que a tal bondade

A vitória não obtém

Põe a mão na consciência

Combate o mal com o bem.

 

Se quando falar de paz

Perceber algum desdém

Ou até um comentário:

“Não vale nem um vintém”

Por saber qual seu valor

Combate o mal com o bem.

 

Num mundo cheio de ódio

Só o amor intervém

Perante a lei do mais forte

Jamais responda amém

Segue um novo mandamento

Combate o mal com o bem.

 

Por maior que seja o mal

O seu fim um dia vem

Não deixe de acreditar

Pra não se tornar refém

Ser bom requer ter coragem

Combate o mal com o bem.

 

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

COLHEITA

Crédito: Tetyana Kovyrina (PEXELS)

 

Enxuga as lágrimas, criança!

Se choras a perda do sol

Teus olhos ficarão embaçados

E acabarás perdendo o espetáculo

De rara beleza proporcionado pelas estrelas.

 

Vamos, ergue a cabeça!

Se continuares cabisbaixo

A lamentar a perda de um amor

Não poderás ver os muitos que passam

E perderás a chance de finalmente ser feliz.

 

Não fica a reclamar do clima!

Aproveita a chuva que cai copiosamente

E planeja belos passeios

Pois o sol em breve voltará radiante

E terás muito do que desfrutar.

 

Deixa os remorsos de lado!

Remoer o passado não faz mudá-lo

O presente é sempre o melhor momento

E o momento é de plantar sorrisos,

Irrigar sonhos e colher felicidade.


terça-feira, 28 de outubro de 2025

QUANDO O HOMEM DESISTE DE SI PRÓPRIO

Crédito: Freies Deutscher Hochstift

“É verdade que o caminho seria mais curto e mais cômodo se não fosse a montanha; mas a montanha existe e é preciso seguir viagem”.

                Sejam bem-vindos, caro leitor e cara leitora, a mais um capítulo de nossa jornada rumo às profundezas do próprio homem. Hoje nosso deslocamento será mais rápido, pois cobriremos uma pequena distância, deixando a Suíça, com o enredo de horror que presenciamos, e nos dirigindo à Alemanha. Vamos ajustar nosso relógio para um passado mais longínquo, para ser mais preciso, no ano de 1774. Hoje, diferentemente das outras vezes, não teremos trilha sonora. Seguiremos ao som ensurdecedor do silêncio e, ao final deste texto, o leitor poderá entender minhas escolhas de hoje.

                Ao fim de nossa pequena viagem, encontramos nosso herói, o jovem Werther, rapaz de origem burguesa, o qual segue em direção ao ambiente campestre. Posso adiantar aqui que ele busca a tranquilidade dos campos (locus amoenus), aliás, a ideia de que a natureza é o refúgio em que o homem encontra o verdadeiro equilíbrio, livrando-se das ilusões da cidade, já vinha sendo colocada neste século por meio do Arcadismo, que aconselhava a fuga da cidade (fugere urbem) para que o homem pudesse se encontrar, pregando o bucolismo, ideal de vida que pode ser representado de forma perfeita na música “Casa no campo”, interpretada na belíssima voz de Elis Regina, composta despretensiosamente por Zé Rodrix em uma viagem entre Brasília e Goiânia.

                Então o caro leitor deverá se perguntar: “O que esse rapaz procura?” Respondo: Werther tenta fugir de duas agitações: a sociedade burguesa da qual faz parte e o turbilhão de sentimentos que se apossam de seu interior como uma intensa tempestade que varre suas certezas de um lado para o outro. O protagonista é um retrato fiel da juventude de sua época, espalhada por todas as nações da Europa. Ele não nutre nenhum sentimento de pertencimento ao mundo em que se encontra, provando de um profundo desapontamento em relação aos seus anseios como indivíduo. Werther parece não se encaixar em lugar nenhum, um verdadeiro desajustado, um estranho.

                No primeiro momento, parece a fuga uma ótima forma então de o personagem tentar repensar sua vida e colocar seu mundo nos eixos, imerso na harmonia da mãe natureza. Porém, nesse cenário idílico, ele acaba conhecendo Lotte, uma bela moça que, a princípio, faz com que o jovem se esqueça um pouco da turbulência do mundo à sua volta. Com o passar do romance, vamos notando uma cumplicidade cada vez maior de olhares e gestos entre os dois. Cada vez mais eles notam suas afinidades, tanto que seus diálogos costumam ser curtos e breves pois eles se comunicam pela linguagem da literatura, por meio das personagens e livros que leram e conhecem.

                Se o caro leitor tem alguma noção sobre o Romantismo (custou para chegar a ele, embora eu o tenha citado com frequência) cuja obra aqui descrita é considerada seu marco oficial e grande representante, já sabe que no bojo de sua fórmula previsível consta um par romântico e um obstáculo ao seu amor como causa do conflito. Também por isso chamamos o protagonista de herói, pois o mesmo terá que lutar contra o mundo, movendo céus e terras para que seu amor atinja a plena realização (estratagema ainda usado sem parcimônia nas telenovelas, seriados filmes, livros e até propagandas). Com esse simpático casal não seria diferente: ela está noiva, prometida em casamento a Albert, que agora adentra ao romance, voltando de viagem a fim de desposar a bela Lotte.

                  Não preciso nem explicar ao caro leitor o quanto essa fatídica notícia abala o mundo – já em ruínas – do protagonista, que parte para outra cidade, arranjando uma nova ocupação para assim, quem sabe, distrair o coração ferido por tantas frustrações. Cabe aqui lembrar que os autores românticos não costumavam ser ponderados, portanto, seus desfechos sempre pendiam para um dos dois extremos: o final feliz ou o final trágico – traço de sua personalidade extremista. Como o leitor também espera, não importa o que Werther faça, ele não a esquecerá, de forma alguma. Ela irá se casar com Albert e eles terão um último encontro.

                Confesso ao amigo leitor, que tem me acompanhado até aqui, que esta foi a minha mais difícil escolha entre as obras que aqui citei desde nosso primeiro encontro, esperando que em breve me faça entender. Porque, diante da situação, quebrarei uma das minhas regras pessoais ao falar sobre um livro: contarei o seu final. Tomado pela pressão dos sentimentos que o invadem e pela dor do amor não realizado, cabe lembrar que essa é mais uma rejeição que ele sofre (a pior de todas elas), nosso herói opta, no ápice do desespero, por tirar a própria vida, recebendo o título de “primeiro suicida” da literatura. Dizem por aí que essa trama é resultante de uma experiência real de amor não correspondido pela qual passou seu autor Goethe, que encontrou, como uma forma de escape ao sofrimento, matar a própria personagem, para que pudesse seguir sua vida em frente novamente.

                Tenho assumido, desde o começo, o compromisso de mostrar o quanto a literatura tem em comum com a realidade. Eis o que farei mais uma vez. Acredito, caro leitor, que Goethe jamais tenha imaginado que captaria com tanta maestria o que os alemães chamam de “Zeitgeist”, que seria para nós o espírito de uma época. Ao ser publicado e comercializado, o livro começou a influenciar toda uma geração que, ao ler tal obra, acabava por se identificar com ela, tomando o mesmo final do protagonista. Houve relatos de uma onda de suicídios por diversos cantos da Europa em que as vítimas eram encontradas ou vestidas como a personagem ou abraçadas ao livro, resultando em sua proibição.

                Cheguei agora à encruzilhada que já previa inevitável: ah, caro leitor, Werther abriu mão de seu bem mais precioso: a vida. Não suportou a pressão da sociedade que não o via como ele desejava nem suportou ao ataque de seus próprios demônios. Com esse final trágico, Goethe apresenta o conceito romântico de escapismo, a fuga da realidade. Ao considerar a morte como uma liberdade da vida que não se suporta, ele lança ao mundo um de seus maiores tabus. Proibir que se lesse o livro foi uma solução dada ao problema, muito parecida com o que temos ainda hoje: ao não se falar da questão, ela não será lembrada e, não sendo lembrada, não virá à tona. Confesso que às vezes acho que os adultos escolhem formas muito estranhas de resolver seus dilemas.

                A psicologia usa o termo “efeito Werther” para explicar quando a divulgação de um suicídio funciona como um gatilho, gerando uma visão romantizada do mesmo como uma bela solução, induzindo à sua prática. Essa explicação é bem minha, livre de grandes estudos e termos técnicos. Nosso herói não partilhou sua dor com ninguém, falando da mesma somente na carta que deixou para Lotte após sua morte. Gostaria de lembrar da campanha do ”Setembro Amarelo” sobre a valorização da vida e a prevenção ao suicídio. Inúmeras pessoas de diversas idades dão fim à própria vida, entre elas, crianças e jovens. Essa campanha prega um maior diálogo sobre o tema como forma de prevenção, mas também me deixa a pergunta: Por que se preocupar com um tema tão importante somente um mês por ano? Segundo os estudos, noventa por cento dos casos de suicídio poderiam ser evitados mas, se as pessoas se recusam a falar disso, como resolver?

                É preciso desmitificar o assunto (tantos ainda acham isso frescura, meio de chamar a atenção, fraqueza, modinha – sem falar na questão de pecado), buscar ajuda e orientação profissional (ninguém melhor que o psicólogo) e também uma conversa com um bom amigo. Faz-se necessário uma luta maior pela vida, bem supremo, precioso, intransferível. Se o caro leitor não crê em Deus, não tem problema nenhum, desde que acredite nessa energia pulsante e mágica que corre em suas veias e faz de você uma pessoa única no mundo.

                Que cada um de nós possa trazer consigo: a loucura sonhadora de Dom Quixote de fazer dessa existência algo bem melhor, a gana de Ulisses de enfrentar os deuses para voltar para casa e para os seus, a fé de Dante ao percorrer os anéis infernais na certeza de que algo de bom o espera do outro lado. Retomo a frase do romance que abre o nosso texto, encerrando nossa viagem de hoje com a bela canção do saudoso Gonzaguinha que poderia receber o título de “Hino á vida”: “Viver e não ter a vergonha de ser feliz / Cantar, / A beleza de ser um eterno aprendiz / Eu sei / Que a vida devia ser bem melhor e será, / Mas isso não impede que eu repita: É bonita, é bonita e é bonita!” Até a próxima viagem.   

 GOETHE, Johann Wolfgang von. Os sofrimentos do jovem Werther. Florianópolis: Penguim, 2021. 

 

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

ACREDITE NA BONDADE

Crédito: Gabriel Frank (Pexels)

Mesmo que as trevas da noite

Te empurrem pra escuridão

Dizendo não ter mais luz

Muito menos salvação

Acredite na bondade

Que há no seu coração.

 

Mesmo que a tal violência

Promovendo a lei do cão

Tente dizer que a justiça

Só existe com punição

Acredite na bondade

Que há no seu coração.

 

Mesmo que o terror e o ódio

Provoquem tanta aflição

Causando medo e pavor

Em meio à população

Acredite na bondade

Que há no seu coração.

 

Mesmo que a desesperança

Conduza à sofreguidão

Parecendo que o mundo

Não passa só de ambição

Acredite na bondade

Que há no seu coração.

 

Jamais desista do amor

Tenha o dom da compaixão

Lembre sempre que a empatia

É a melhor solução

Acredite na bondade

Que há no seu coração. 

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

NA PLATEIA

Crédito: Wikimedia Commons
 

É toda manhã o mesmo despertar

Na mesa o mesmo café da manhã

Não mudaram as frívolas conversas familiares

Os jornais exibem as banalidades de costume.

 

Enfadado dessa vida medíocre, saio às ruas

Pessoas atarantadas correm atrás das mesmas ilusões

Jovens em torno de repetitivas alienações.

 

Convenço-me de que estou em um mundo doente

Assolado por uma epidemia conhecida por rotina

Estamos programados para fazer o básico.

 

Desde os primeiros anos escolares recebemos um rótulo homogêneo

A nos acompanhar por toda a nossa vida,

Esse palco onde a monotonia se apresenta

Envolvendo-nos, fiel plateia,

Conformados a apenas assistir ao espetáculo

Até que as cortinas se fechem, as luzes se apaguem.

 

Batemos palmas, voltamos para o aconchego de nossos lares

E dormimos o sono dos justos.

terça-feira, 21 de outubro de 2025

A ATITUDE INCONSEQUENTE DO HOMEM QUE BRINCA DE DEUS

 

Crédito: PICRYL


      "Quão perigosa é a aquisição do conhecimento e quão mais feliz é o homem que crê que sua vila natal é o mundo, do que aquele que aspira tornar-se maior do que sua natureza permite."           

    Bem-vindos, caro leitor e cara leitora, fiéis companheiros de viagem, a esse fantástico universo chamado Literatura. Seguimos nosso itinerário pelas páginas dos livros que nos conduzem, pouco a pouco, em direção às entranhas do homem. Terminamos nossa viagem passada em um navio, numa luta desigual contra a força da natureza e, novamente, por outro navio, começamos mais uma vez, só que agora nas geladas águas do Ártico. Caso o leitor me pergunte o que estamos fazendo aqui, eu respondo: viemos encontrar o fim da história que nos levará ao seu início. É isso mesmo? Sim, meu amigo. A literatura tem dessas coisas. Agora vamos acionar a nossa eclética “playlist”: sigamos então ao som da cantata “Carmina Burana”, de Carl Orff, a começar pela faixa “Ó Fortuna”, totalmente apropriada ao drama que se abaterá sobre nós a partir de agora.

                Nessa parte solitária do mundo, o capitão Robert Walton recolhe a bordo um homem cujo semblante mostra-se marcado pelo tormento, que se diz chamar Viktor Frankenstein. Sim, caro leitor, você já ouviu esse nome alguma vez e, provavelmente, sabe de quem estou falando. Portanto, já imagina que hoje mergulharemos nos porões obscuros da ambição e do desejo de glória, comuns a algumas mentes obcecadas. Neste momento, doutor Frankenstein vai começar uma narrativa que nos levará ao clima mais ameno da bela Suíça, mais propriamente à cidade de Genebra, nos idos de 1818.

                Antes, convém lembrar ao leitor que esse livro surgiu de um sonho (cá entre nós: está mais para um pesadelo) da jovem Mary Shelley, aos dezenove anos, após uma aposta feita com ninguém menos que o famoso poeta Lord Byron sobre escrever uma história de terror durante o verão chuvoso e de tempestades tenebrosas. Já sabemos que os românticos (ah! sempre eles) aceitavam como inspiração as noites sombrias e de ambiente tétrico como inspiração (chamados “locus horrendus”), nascendo destas a prosa gótica que revelou talentos natos como Edgar Allan Poe e o nosso Álvares de Azevedo. Acredite se quiser! Mary jamais imaginou que estaria criando a primeira obra de ficção científica da história e que, anos mais tarde, tenha inspirado, nada mais nada menos, que o mestre do terror: Stephen King, entre tantos outros.

                Porém, não nos deixemos perder, dileto companheiro, do rumo que tracei para nós neste domingo. Viktor, um jovem aristocrata, fascinado pelos estudos e experiências dos mestres alquimistas, inicia o curso de ciências naturais na universidade. Desde o princípio, demonstra interesse por procedimentos e experimentos os quais são abomináveis a todos os mestres e alunos à sua volta. Com base nos estudos do anatomista italiano Luigi Galvani e do médico suíço Paracelso, Viktor cogita criar vida artificial por meio da eletricidade. Ele sabe o que significa tal ideia perante a sociedade, por isso, ocultamente, rouba partes de cadáveres para montar um “ser humano” que terá sua vida concebida por meio de uma descarga elétrica sem precedentes.

                Não preciso nem dizer que tal experimento (transformado em obstinação) consumiu sua vida familiar, social e até mesmo sua saúde. Trancado em uma propriedade isolada, em perfeitas condições para seus propósitos, ele passa dois longos anos entregue ao seu único objetivo: criar a vida por suas mãos. Seu esforço hercúleo traz resultados, após certos insucessos, acontecimento comum quando se fala em ciência, pois certas conquistas jamais deixam transparecer aos leigos o verdadeiro custo de seu sucesso. Enfim, sua criatura ganha vida, mas o resultado da experiência não é como fora idealizada. É neste momento, caro leitor, que o cientista louco cai em si e nos remetemos à fala que abre nosso artigo de hoje. Doutor Frankenstein ultrapassou todos os limites de sua natureza e, tardiamente, toma consciência de que não deveria ter feito tal experiência.

A criatura acaba por fugir do laboratório. Seu criador mantém seu pecado em sigilo mortal. Ela enfrenta a vida por aí. Possui alguma inteligência: aprende a linguagem, adquire muitas noções de cultura, contudo sente-se órfã, como aquela criança concebida que a mãe abandonou em um canto qualquer, desamparada e desprotegida. Capaz de aprender tudo, inclusive a sensibilidade e a gentileza, entre outros atributos; chegando até a salvar a vida de uma criança. Infelizmente, isso tudo de nada adianta para alguém com uma aparência como a dela. Jogada em uma sociedade que adora ver os rótulos e as embalagens; ela, resultado do retalho de diversos corpos, toda costurada, recebe o cruel estereótipo de monstro.

Percebendo que é única no mundo e que só poderá ser verdadeiramente feliz se houver alguém de sua espécie (outro como ela), retorna ao seu criador, até então aliviado por se ver livre da criação pela qual tanto ansiou. Frankenstein ainda traz consigo o remorso, a culpa e o segredo como tortura, pensando consigo: “Haveria alguém além de mim, o criador, capaz de acreditar, a menos que convencido pelos sentidos, na existência do monumento vivo à presunção e à ignorância imprudente que lancei ao mundo”? Eis o susto que recebe ao ver sua criatura de volta, fazendo-lhe um pedido em forma de exigência: a criação de uma parceira para ele, para depois poder sumir da vista de todos, até de seu “pai”. Entretanto, caso ele se recuse, sofrerá tormentos insuportáveis.

O doutor acaba concordando, tendo até um momento de compaixão pelo destino cruel da pobre criatura, destino esse pelo qual se sente culpado. É como se estivesse pagando uma alta dívida para com ela. No entanto, mais tarde, após ter começado a criação da futura companheira, fica pensando nas consequências que traria para o mundo, caso eles viessem a gerar descendentes e, por fim, desiste do intento, quebrando sua promessa. Sua criação o faz pagar caro por isso, assassinando as três pessoas mais queridas para ele: o irmão, a noiva e o amigo; assumindo a vingança como a compensação pela falta de afeto e proteção. A partir daí, começa uma perseguição durante a qual ambos alternam-se no papel de caça e caçador.

Vemos em Viktor a mesma obstinação sem medidas que vemos no capitão Ahab: em desconhecer os próprios limites humanos, desafiando as leis da natureza. Na verdade, caro leitor, o que vemos aqui é um pensamento comum presente na Revolução Industrial, em seu primeiro estágio: a tecnologia e a ciência exerceriam, enfim, o poder sobre a natureza. Vemos uma ciência que acaba por tomar o lugar de Deus no coração do homem, mas que, naturalmente, acaba por falhar. Cabe lembrar que o subtítulo da obra é “Prometeu moderno”, referindo-se ao mito grego em que Prometeu rouba o fogo dos deuses para dar aos homens como poder e depois é severamente castigado. Eis o que também se passa com Viktor.

Destaco aqui que o título da obra leva o nome do cientista e não da criatura que, de tanto despersonalizada, nem nome possui, o que leva ao nível da falta e afeto e identidade que emana de seu criador. Em muitas adaptações para filmes, desde um dos primeiros, como “Frankenstein” de 1931, do diretor James Whale, no estilo expressionista, até referências em alguns mais recentes como “Van Helsing” (2004), chocam-se as ideias de monstro e de vítima, lembrando que, aos olhos de Mary Shelley, o doutor era o verdadeiro monstro. Em um mundo cada vez mais avançado cientificamente, com temas como clonagem e outros, devemos nos lembrar que até mesmo a ciência tem seus limites e, sem ética alguma, pode se equiparar a certos fanatismos religiosos.

Viktor quis ir além dos mistérios da criação, descobrindo tarde demais que para alguns caminhos não há volta, que todos nós podemos escolher o que vamos plantar, mas a colheita já está decidida. O filme “Edward mãos de tesoura”, feito em 1990 pelo original Tim Burton e o samba-enredo da Beija-Flor de 2018 (em homenagem aos duzentos anos do livro) “Monstro é aquele que não sabe amar”, entre tantas outras releituras dessa rica obra, querem nos mostrar que o olhar indiferente e excludente de nossa sociedade é uma enorme fábrica de monstros. Até a próxima!

SHELLEY, Mary. Frankenstein. Rio de Janeiro: Excelsior, 2019.     

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

RECADO A MEU FILHO

Crédito: Sharefaith (Pixels)

 

Curte a infância, filho querido,

E aproveita bem o tempo

Porque ele passa tão velozmente

Em breve será doce lembrança

A despertar alegres saudades

De uma época feliz.

E um adulto sem lembranças

É uma pessoa sem infância

Uma alma doente

A conviver com a frustração.

 

Por isso corre descalço pela relva

Ria das trapalhadas de seus amigos

Persegue a pipa solta no azul do céu

Rola no chão, encha-se de terra da cabeça aos pés

Cantarola alto suas canções preferidas

Conversa com os seus amigos imaginários

Inventa os seus próprios contos de fada

Põe a sua capa e mostra os superpoderes.

 

Até que uma noite, sem que se dê conta,

Dormirás criança e acordarás adulto

Então descobrirás que o tempo

É um sujeito cruel

Que sempre está de partida

E não volta

Nunca mais.

terça-feira, 14 de outubro de 2025

JOÃO CORAGEM CONTRA O BANDO DO PAVIO CURTO (OUTUBRO 2025)

Crédito: Hadoock de Aninha

 

TEMA

Por muito tempo, os filmes de faroeste fizeram grande sucesso tendo, como pano de fundo, a ocupação do velho-oeste americano. Diversos filmes foram surgindo, tendo a figura do pistoleiro, a do matador e os memoráveis duelos à luz do dia em cidades empoeiradas no meio do nada, rendendo vários filmes de ação, regados a muitas chuvas de balas. Algumas associações já chegaram a ser feitas com as regiões Centro-Oeste e Nordeste do nosso país, no começo de suas povoações, chamadas, em seus lugares mais distantes e ermos, de “terra de ninguém”, onde a única lei a vigorar era a “lei do mais forte”, assim como naqueles filmes. Foi pensando nesse sertão distante e sem lei, na figura do matador de aluguel e dos grandes duelos que surgiu esse cordel, também inspirado no conto extraordinário de Guimarães Rosa intitulado “A hora e a vez de Augusto Matraga”, resultando em uma breve história que pudesse reunir violência e redenção.  

SINOPSE

João Coragem é um matador profissional. Não temendo ninguém, fez da morte o seu ofício, trabalhando para quem pagasse melhor. Indiferente e acostumado à violência, acaba sendo abandonado pela mulher que teme por sua vida e pela vida da filha, deixando-o sozinho. Seu nome e sua fama vão crescendo por toda a região, o que lhe garante que nunca fique desempregado, mas, por outro lado, passa a acumular inimigos. Certo dia, após uma missão malsucedida, resolve deixar de vez o nefasto ofício e procurar pela paz que jamais teve, mudando-se para uma pequena e pacata cidade onde ninguém o conhecia. Depois de algum tempo, quando João parece, enfim, ter encontrado a verdadeira vida, eis que um acontecimento repentino obriga João a fazer uma escolha definitiva que vai selar o seu destino. Não perca esse faroeste à brasileira.

 

Passou já se faz um tempo                                       

Essa tal famosa história.

Como tudo começou

Está vivo na memória,

Nem os anos apagaram

Essa real trajetória.

 

Vivia nas cercanias                                                       

Um famoso foragido,

Homem de muita frieza,

Coração endurecido.

Matava sem hesitar,

Sempre muito decidido.

 

Era como um mercenário:                                         

Servia a quem mais pagava.

Pra manter a profissão,

Ao matar nunca hesitava.

Ninguém se postava contra,

O povo atemorizava.

 

Ganhou cada vez mais fama    

De notável matador.

Era uma chama do mal,

Alimentada na dor.

A Dona Morte clamava

Por mais um adorador.

 

Portava a morte consigo,

Por isso sua presença,

Claro sinal de má sorte.

Agonia tão imensa,

Muito forte se tornava

Como uma mortal doença.

 

NÃO DEIXE DE ACREDITAR

Crédito: Dima Valkov (PEXELS) Mesmo que te seja a vida Tão difícil caminhar E a estrada longa demais Para ao fim poder chegar Comece com um ...